terça-feira, setembro 18, 2007

Caso Maddie, um autêntico romance policial

Se há histórias que têm poucos condimentos, esta de certeza que não o é.

Se não vejamos. Um casal de ingleses num país estrangeiro. Médicos, bonitos, de boa classe social e com uma imagem acima de qualquer suspeita. Três criancinhas loiras, uma delas, a mais velha, “desaparece” em período de férias.

O casal sai para jantar com um grupo de amigos. Deixam as três crianças sozinhas no apartamento. Durante a refeição bebem 14 garrafas de vinho e de quando em vez iam verificar se os filhos estavam realmente a dormir. Quando calhou a vez da Kate, esta verificou que a pequena Maddie tinha desaparecido. Apesar da disponibilidade da vizinha do piso de cima, Kate liga primeiro para um canal de televisão a falar do desaparecimento e só 40 minutos depois se lembra de chamar a polícia. Entretanto chega à mesa do restaurante e diz: “Eles levaram-na”.

Contratam um assessor, que entretanto vai trabalhar para o governo britânico, e organizam uma campanha mundial para encontrar a menina. Vão ao Vaticano e tudo. Vinte cinco dias depois alugam um carro.

Num dos interrogatórios realizados pela polícia, Kate leva uma bíblia que, alegadamente, estava marcada num dos livros do Antigo Testamentos onde Deus terá dito a um dos seus crentes: "tens de matar o teu filho primogénito".

Cães da polícia detectam odor a cadaver no apartamento do Ocean Club, no carro alugado e finalmente junto à capela, que por acaso tem ao lado um antigo cemitério desactivado.

Depois disto tudo “fogem” para Inglaterra, sua terra natal. Contratam um advogado, que defendeu Pinochet, e perito em defender casos de extradição. Como se não bastasse contratam também um gestor de crise, precisamente aquele que geriu o escândalo de manipulação genética de um laboratório britânico.

Pelo meio têm mais dois assessores, curiosamente nomeados pelo governo britânico. Um deles, uma mulher (Justine) tem por hábito jantar e beber uns copos com a imprensa inglesa – em vários locais da Praia da Luz, nomeadamente no restaurante “Fortaleza da Luz” –, provavelmente para lhes dar informações que favoreçam a imagem dos McCann e assim baralhar a opinião pública.


Os ingredientes estão lançados, a confusão também. Onde está Hercule Poirot ou Sherlock Holmes quando são realmente precisos?!

segunda-feira, setembro 10, 2007

Vira o disco e toca o mesmo

Há alturas em que temos de admitir que por mais que se procure, por mais que se investigue e por mais que se contacte pessoas não iremos conseguir mais informação. Quando se chega a essa conclusão o melhor a fazer é parar uns dias, respirar fundo e procurar outros ângulos de abordagem.

O “caso maddie” está novamente na baila porque os pais foram interrogados pela PJ recentemente. Mas tudo espremido dá zero. Está tudo na mesma. O único facto é que a pequena desapareceu. Se está morta, se está viva não se sabe. Tudo indica que a menina possa estar efectivamente morta. Quem a matou, de que forma, porquê, são tudo meras questões processuais.

Neste momento a PJ passou parte da batata quente ao procurador. Agora ele que decida o que fazer. Retirar o estatuto de arguido aos McCann, a Robert Murat (quanto mais pergunto por ele mais as pessoas da praia da luz estão convictas que ele nada tem a ver com o caso, dize: “é um bom homem que ao longo da sua vida sempre quis ajudar), definitivamente colocar os pais de Maddie em prisão preventiva ou então “engavetar” o suspeito que falta.

Todas estas hipóteses estão em aberto. Nos próximos dias o procurador vai ter de estudar e reflectir sobre o que deve fazer. Esperemos que não haja pressão por parte do governo britânico ou português.

Como alguém da PJ me dizia em tom de brincadeira, quanto pressão colocada pela comunicação social (estrangeira ou portuguesa) “estamo-nos a borrifar”. É a atitude correcta e que a polícia continue a fazer o seu trabalho. A imprensa, certamente, irá continuar a fazer o trabalho dela. Mal ou bem todos falham. Não há pessoas perfeitas nem cenários perfeitos.

domingo, setembro 02, 2007

Um olhar que não se esquece

Já passaram três semanas, mas aquele olhar azul, frágil e magoado não me sai da cabeça. Os cerca de oitenta anos de vida desta mulher deixaram as marcas evidentes no rosto, mas o desaparecimento de Maddie McCann cravou-lhe nos olhos o sentimento de desespero e de desconfiança.

Os vinte minutos de conversa com a mãe de Robert Murat marcaram-me profundamente. Não ponho as mãos no fogo por ninguém, mas o discurso sincero e magoado desta mulher esclareceu algumas dúvidas e levantou muitas mais.

Em frente ao portão da Casa Liliana, na Praia da Luz, ficou claro que a história não está bem contada e que, provavelmente, Robert Murat é um arguido por conveniência, mas mais tarde ou mais cedo vai deixar de o ser.

Está ainda por esclarecer o papel de Robert Murat em todo o processo. Interprete, bom samaritano, peão ou culpado, são “papeis” que nunca foram elucidados. Certo é que se ele estivesse realmente implicado, estaria a aguardar julgamento em prisão preventiva e não na sua própria casa.

A Casa Liliana, onde mora Robert Murat, fica a pouco mais de 100 metros do Ocean Club, onde Maddie desapareceu. Quem conhece a Praia da Luz sabe que há “pequenas maddies” a torto e a direito. Parecem que foram feitas todas no mesmo molde. Mas porquê os McCann? Porque é que tendo “nanies” de borla, dispensaram os seus serviços precisamente nesse dia? Em que é que estes senhores estão envolvidos? Tudo perguntas para as quais ninguém tem respostas, nem os ingleses.

O poder político dos McCann em Inglaterra é grande. Os seus assessores, David e Justine, foram nomeados pelo governo. A imprensa britânica ataca a cada instante os seus congéneres portugueses e a polícia judiciária. Porquê? Não sei dar a resposta, contudo posso afirmar que, nos dias em que estive na praia da Luz, vi várias vezes a Justine pela a conversar com jornalistas britânicos pela noite dentro. Conivência ou instrumentalização?!

A própria comunidade britânica, residente na Praia da Luz, fecha-se em copas e não comenta o desaparecimento da miúda. O que é que eles saberão que mais ninguém sabe?

Fala-se agora que o McCann poderão deixar Portugal e rumar para Inglaterra. Em boa hora o fazem, contudo a polícia deveria colocar-lhes um sinalizador debaixo da pele para saber por onde andarão no futuro. Porque, se calhar, eles sabem um pouco mais do que aquilo que deixam transparecer.