Uma frase importante
Como diz uma chefia minha: Jornalista não é pé de microfone!
Por falar nisso, leiam isto. E fiquem a pensar...
Um espaço aberto a histórias e estorias do dia-a-dia dos jornalistas. A difícil relação com as fontes e até a pressão das chefias. Conte a sua história ou estoria. Envie um mail para: jornalismos@portugalmail.pt
No domingo, o jornal volta a pegar no assunto e utiliza algumas citações do jogador para sustentar a informação da suspensão de Jordão e Pedro Simões. Rui Borges, equipa técnica e direcção do clube não gostaram da situação e afirmam que, por tempo indeterminado, não irão ceder qualquer declaração ao jornal “A Bola”.
1º - A informação dada pelo jornal desportivo é verdadeira.
2º - Realmente os jogadores não têm treinado com o grupo. Pedro Simões está lesionado, Jordão tem “uma mialgia” (no entanto fonte do clube confirmou-me a existência de uma situação menos própria, mas os jogadores desmentem)
3º - Já estou a ver que se amanhã tiver de dar uma notícia parecida vai acontecer-me exactamente a mesma coisa.
4º - O jornalista falhou num aspecto fundamental: ouvir as partes com interesses atendíveis. No artigo publicado no sábado não constam as palavras de Pedro Simões, Jordão e de um elemento da direcção do clube, como mandam as regras jornalísticas.
Fica, contudo, uma situação por clarificar: Sempre que sair uma notícia que não agrade ao clube, o jornalista e o orgão de comunicação social irão ser penalizados? Se sim, lamentável...
A minha primeira experiência entre o protagonismo das Secretarias de Estado deu-se quando estava a estagiar na secção “Comunidades” da Agência Lusa (2003). O assunto era bastante simples: um evento internacional onde intervinham a Secretaria de Estado das Comunidades e a Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto.
Para fazer o artigo contactei a Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, que meu forneceu, via e-mail, dados sobre o evento e afirmou que eram os organizadores do mesmo. Até aqui tudo bem, escrevi e publiquei. Fui para casa.
Passadas duas horas (+/-) a minha editora liga-me e diz-me que a assessora do então Secretário de Estado das Comunidades queria desmentir a notícia porque afinal era o seu ministério que era o organizador e não a “Juventude e Desporto”. E queria saber quem é que me tinha dado a informação, porque não era verdade. Eu garanti-lhe que tudo o que tinha escrito era verdade (aliás a minha editora tinha visto o mail)… enfim as coisas normais por quem se sente melindrado.
Obviamente recusei a dizer o nome de quem me tinha dado a informação. No entanto bastaria ler o take para perceber que a informação era oficial. No outro dia, chego à redacção e liga-me a fonte da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto a dizer-me que ele nunca tinha dito aquilo, e a afirmar que eu fiz confusão. Saltou-me a tampa.
Muitas vezes ouço comentários na rua que os jornalistas não fazem o seu trabalho como deve ser. Então quando se fala em futebol o assunto assume proporções siderais.
Há pouco tempo “dei” que um determinado jogador, que vinha de uma lesão, estava apto para defrontar o Benfica. Essa informação tinha-me sido dada pelo enfermeiro do clube, um indivíduo que à partida é credível. Afinal, o jogador em causa não estava apto e saiu uma notícia errada.
Esta semana, o mesmo enfermeiro disse-me (e aos restantes jornalistas presentes) que um dos avançados estava lesionado e não poderia jogar na jornada seguinte. Estranho é que no dia seguinte esse mesmo jogador estava a treinar sem qualquer limitação. Notamos contudo que haviam vários futebolistas ausentes do treino e para testar esse enfermeiro perguntamos porque é que um outro jogador tinha faltado. A resposta: tem uma tendinite. Telefono de seguida ao presidente do clube que me diz: O jogador esteve ausente para tratar de assuntos puramente profissionais.
É com este tipo de gente que os jornalistas que acompanham o futebol lidam diariamente, daí que as informações possam ser incorrectas. Quando o informador, uma pessoal responsável, mente de forma abusiva só pode dar em notícias falsas.
Mas hoje, finalmente, decidi-me.
Neste espaço vou colocar aos poucos situações do meu presente e do meu passado, em que fui enganado, ludibriado e pressionado pelas fontes ou até mesmo, nem que seja em desabafo, as relações com as chefias.
Este blogue servirá também ao leitor para perceber porque é aparecem tantas vezes notícias contraditórias na imprensa em geral.
Se um dos leitores for jornalista e quiser partilhar as suas experiências basta enviar um e-mail: jornalismos@portugalmail.pt que o texto será publicado.